Síndrome de Alienação

A alienação lhe conferia um poder: o da autossuficiência, que debochava dos valores os quais se tornara imune e que há muito tempo já não faziam sentido. Ver de fora lhe aguçava tal visão. Olhos de raios-X, vendo a efemeridade dos esqueletos revestidos da fantasia que protegem os corpos e almas de perderem o prazer em viver. Quisera-lhe ainda possuir resquícios dessa ilusão. Sintomas de inveja nas pontas de seus pelos transpareciam ao se arrepiarem com o desejo de voltar a tê-los, ou com o ressentimento do dia em que foram perdidos. O desejo de desejar riscava uma faísca na inveja de invejar, só para resgatar a vontade do que deixou de fazer falta. Não sentir falta deveria ser felicidade, um sinal de plenitude. No entanto, apenas o provocava a "andar pelas ruas com uma placa pendurada no pescoço, dizendo: o fim está próximo". Um moribundo com vontade de viver, mas não neste mundo. Eis a falta: a de um lugar que corresponda ao ideal. Eis a distopia: quando você sai do mundo...