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Mostrando postagens de maio, 2018

Meu modo de escrever

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Espontaneamente, não me aproprio de linguagem culta ao escrever; uso e abuso de clichês populares dos quais extraio sabedoria implícita, ou os utilizo como recursos de tradução exemplificativa daquilo que quero dizer. Na simplicidade, escrevo melhor do que falo, e isso se deve, em parte, à minha timidez para falar em público e, evidentemente, ao tempo que a escrita proporciona para a busca das palavras certas e de sinônimos que evitam a redundância quando a expressão de uma ideia pede por ser enfatizada. Das pesquisas por palavras adequadas, acabo por conhecer outras que passam a surgir em meio ao texto, às vezes surpreendentes devido ao seu uso incomum, de súbito e definitivamente adotadas como toda novidade que fascina. Não pretendo, com elas, o exibicionismo, nem tão pouco o eruditismo que não tenho, ao ponto de substituí-las quando elas saltam em discrepância com o conjunto do texto. O que importa é ser compreendido, dialogando com a inteligência do leitor e apostando na sua sensi

Estética

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O mundo das aparências é um mundo de estética, no entanto, a estética não está apenas nas superfícies; está também nos conteúdos, nos conceitos e preconceitos. É a estética que determina se uma pessoa, sua aparência, seus gostos, ideias, intelecto, poder de compra etc, são chiques ou bregas. Um mundo dividido no qual as partes se excluem e se subdividem, porque também no chique há o brega, e no brega há o chique. A maturidade deveria dirimir os preconceitos, mas muitas vezes até os aumentam, como resultado da necessidade de um sentimento ilusório de superioridade enquanto seres sociais que somos. É fato que as diferenças de capacitação existem, independentemente de sorte, esforço e oportunidades, mas o resultado delas continua sendo estético, oriundo da comparação e, sobretudo, da vaidade. Talvez a estética seja necessária para determinar a cada um o seu lugar, quando o lugar de cada um é imprescindível para construir os lugares nos quais cada grupo se sinta confortável. Porém, há gru

Simulacro

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Num futuro não muito distante, quando tivermos toda sorte de chips implantados em nossos corpos e não mais enxergarmos com nossas córneas, e sim através de lentes leitoras de realidade virtual, ninguém mais se preocupará com a própria aparência física. Compraremos "corpos virtuais", que serão a imagem com a qual nossa identidade física será representada para todas as demais pessoas e inclusive para nós mesmos. Veremos e seremos vistos com a aparência que escolhermos ter. Não teremos realizado a ideia idiota de imortalidade ainda, mas a juventude permanente terá sido alcançada. Todos parecerão sempre jovens, bonitos e 'sarados', embora as carcaças corpóreas verdadeiras, invisíveis às lentes tecnológicas, não corresponderão às representações visuais adotadas. Quanto mais bonita a imagem, mais cara ela será. Nossas identidades físicas, assinaturas, impressões digitais e números de documentos não serão mais relevantes, porque ninguém escapará da leitura de DNA feita por

Bobo fingido

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O 'pulo do gato' do bobo fingido está em não fazer questão nenhuma de mostrar quando conseguiu o que queria. Sua não-intenção é fingida, mas de bobo não tem nada. Dos cínicos, é o mais seguro do que faz, porque não se sente humilhado perante o soberbo que pensa tê-lo subjugado, quando este, sem perceber, foi invisivelmente chacoteado pelo bobo. – Gutto Carrer Lima Bobo fingido.

Tarde para começar, cedo para parar

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Para voltar a vibrar com o futuro desconhecendo as probabilidades de sucesso, tanto quanto de fracasso, devo considerar com relevância a minha idade atual; esta que me diz ser tarde para começar, porém, cedo para parar. Devo tirar proveito do homem que me tornei, sem que conscientemente o idealizasse. Com fé e razão, sem fantasia, talvez não haja tempo para investir no homem que ainda precisaria de décadas para conquistar a autorização social de ser. Tudo o que vivi me preparou para este momento: o direito de ser e desfrutar-me. O futuro, por sua incerteza, dispensa o preparo e liberta o presente de trabalhar pelo que virá, em vez de fazer por si. O futuro não existe como lugar real, portanto, tanto faz. Importa sim, a realização possível implícita em si mesma. Isto é arte, porque é vida espontânea. – Gutto Carrer Lima Tarde para começar, cedo para parar.

Os Três Pedidos

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Aos nove anos de idade, Ângelo era um menino questionador e sonhador. Questionava seus sonhos, e sonhava com o que lhe intrigava. Confundia-lhe os dias, o fato de nem sempre distinguir o que era sonho e realidade. Às vezes desejava que o sonho se realizasse, outras queria que a realidade fosse sonho, de modo que o sonho não precisasse dar-se o trabalho de se realizar, pois realidade já seria. Numa noite de sábado, Ângelo assistiu duas vezes seguidas o filme de animação em VHS que contava a história do gênio da lâmpada. Somente nas noites de sábado era permitido assistir TV até tarde, pois não precisaria acordar cedo para ir à escola no dia seguinte. Com o controle remoto do vídeo-cassete na mão, Ângelo adormeceu deitado em sua cama, antes do filme acabar. Ele já sabia o final, porém a história continuou diferente em seu sonho. Agora era ele mesmo quem encontrava o gênio! Como todo gênio que se preze, este se apresentou a Ângelo com a célebre saudação: — Salve, meu amo! Lisonjeado so

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