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Mostrando postagens de novembro, 2018

Síndrome de Alienação

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A alienação lhe conferia um poder: o da autossuficiência, que debochava dos valores os quais se tornara imune e que há muito tempo já não faziam sentido. Ver de fora lhe aguçava tal visão. Olhos de raios-X, vendo a efemeridade dos esqueletos revestidos da fantasia que protegem os corpos e almas de perderem o prazer em viver. Quisera-lhe ainda possuir resquícios dessa ilusão. Sintomas de inveja nas pontas de seus pelos transpareciam ao se arrepiarem com o desejo de voltar a tê-los, ou com o ressentimento do dia em que foram perdidos. O desejo de desejar riscava uma faísca na inveja de invejar, só para resgatar a vontade do que deixou de fazer falta. Não sentir falta deveria ser felicidade, um sinal de plenitude. No entanto, apenas o provocava a "andar pelas ruas com uma placa pendurada no pescoço, dizendo: o fim está próximo". Um moribundo com vontade de viver, mas não neste mundo. Eis a falta: a de um lugar que corresponda ao ideal. Eis a distopia: quando você sai do mundo

Escritor Virtual

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Chegará o dia em que o leitor encomendará livros (digitais, é claro 😶 ) a algum sistema de inteligência artificial mediante algum dispositivo eletrônico não disponível ainda, e o escritor virtual criará, de bate-pronto, uma história exclusiva baseada nos gostos e estilo preferido do leitor. O sistema de Inteligência Artificial perguntará: — Você quer rir? Chorar? Refletir? Gozar? Fantasiar? Viajar na maionese? Filosofar? Fugir da realidade? Aprender? Afirmar suas crenças? Transformar sua vida atual? O que você quer? Diga e eu escreverei a história que você deseja "ler"! E o escritor virtual, em questão de segundos, comporá uma história para o leitor do futuro, que por sua vez, não precisará nem se dar ao trabalho de ler – trabalho, de qualquer tipo, será coisa do passado. – A história será transferida diretamente para um chip de assimilação implantado no cérebro, que também será turbinado eletronicamente graças a uma nova tecnologia bioquântica. O café, aquele da imag

Venda ilusão, a realidade não existe

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E a cartomante me disse: — Venda ilusão, a realidade não existe. — E a ilusão, existe? — Cada vez mais! É real o que podemos tocar. Para além disso, é infinito. Infinito é o que não podemos alcançar. É o que está além da ponta dos meus dedos com os braços esticados. Se dou um passo, vou um passo além. A cada passo, mais a alcançar. Ouvi dizer que somos deuses, que tudo posso. Que pensamento cruel! Agora quero poderes de Deus. Quero ser onipotente, onisciente e onipresente. Afinal, sou Deus! E Deus, a tudo alcança. Se eu não alcançar, não sou Deus. Triste pretensão que me impede de conformar-me em ser uma célula, e faz desejar a abrangência. Queremos Tudo. Não nos basta o Aqui. Queremos o Todo. Não nos basta também o Lá. Quero o Aqui e o Lá, mas não posso ter Tudo; meus braços não alcançam. Para expandir o infinito, o amplio para o alcance do olhar, e o infinito se torna maior que os meus braços. Ainda é pouco. Para expandir a visão, a amplio para o alcance dos pensamento

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