Da condenação do riso à condenação de livros
"— Há tantos livros sobre comédia. Por que este lhe causa tanto temor? – pergunta o frei Willian ao venerável Jorge.
— Porque ele é de Aristóteles! – responde o venerável.
— Mas o que há de tão alarmante nisso?
— O riso mata o temor, e sem temor não pode haver fé. Pois se não há temor no demônio, não é necessário haver Deus! – diz o venerável.
— Mas você não eliminará o riso destruindo este livro!
— Não, com certeza. O riso continuará sendo a recreação do homem comum, mas o que acontecerá se, por causa deste livro, homens eruditos declararem permissível rir de tudo? O mundo voltará ao caos. Portanto, eu encerro o que não deve ser dito no túmulo que me torno – diz o venerável, arrancando e comendo as páginas envenenadas do livro."
Veja o diálogo transcrito acima a partir de 04:10 min no vídeo
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Sean Connery é o padre franciscano William de Baskerville e Christian Slater é seu aprendiz Adson von Melk |
– Gutto Carrer Lima
NOTA: A frase do venerável Jorge faz deste um dos pontos fortes da história, em que o autor dá chance à várias interpretações. À primeira vista, as atitudes e palavras do venerável são ironizadas, fazendo dele e de sua justificativa, a vilã de toda a trama. Mas sob um ponto de vista eclético, o venerável não está totalmente errado. Eu percebo que o próprio Willian de Baskerville, na aflição de tentar salvar as obras do incêndio, de repente para, talvez pensando que o venerável tenha boa dose de razão. Willian salva o pouco que consegue carregar, e vejo nisso um símbolo: diante de tanto conhecimento, é relativamente pouco o que conseguimos dar conta. – Associei rapidamente a cena à algumas reflexões que faço em meu livro. – A igreja medieval se fundamentava numa intenção boa, dada a crença da época, apesar de seus métodos ruins dominantes e dos interesses obscuros de riqueza e poder que impingiram tanto sofrimento. No século seguinte à linha temporal da obra, Maquiavel escreveu que "o homem respeita mais ao que teme do que ao que ama". – Até que ponto foi um erro da igreja promover a ordem mediante o temor, considerando-se a natureza humana? Seria possível, dada a ignorância de seu tempo, em vez do medo, promover a conscientização no amor? – A dicotomia se fez presente antes, como se faz hoje. O carnaval é uma ótima referência de caos, e serve como analogia para a condenação do "rir de tudo" como forma de conter os instintos humanos, cuja essência não costuma fazer as melhores coisas quando livre de quaisquer limites. Até mesmo por amor, também erramos. E por prazer, ignoramos as consequências. (GCL)
NOTA: A frase do venerável Jorge faz deste um dos pontos fortes da história, em que o autor dá chance à várias interpretações. À primeira vista, as atitudes e palavras do venerável são ironizadas, fazendo dele e de sua justificativa, a vilã de toda a trama. Mas sob um ponto de vista eclético, o venerável não está totalmente errado. Eu percebo que o próprio Willian de Baskerville, na aflição de tentar salvar as obras do incêndio, de repente para, talvez pensando que o venerável tenha boa dose de razão. Willian salva o pouco que consegue carregar, e vejo nisso um símbolo: diante de tanto conhecimento, é relativamente pouco o que conseguimos dar conta. – Associei rapidamente a cena à algumas reflexões que faço em meu livro. – A igreja medieval se fundamentava numa intenção boa, dada a crença da época, apesar de seus métodos ruins dominantes e dos interesses obscuros de riqueza e poder que impingiram tanto sofrimento. No século seguinte à linha temporal da obra, Maquiavel escreveu que "o homem respeita mais ao que teme do que ao que ama". – Até que ponto foi um erro da igreja promover a ordem mediante o temor, considerando-se a natureza humana? Seria possível, dada a ignorância de seu tempo, em vez do medo, promover a conscientização no amor? – A dicotomia se fez presente antes, como se faz hoje. O carnaval é uma ótima referência de caos, e serve como analogia para a condenação do "rir de tudo" como forma de conter os instintos humanos, cuja essência não costuma fazer as melhores coisas quando livre de quaisquer limites. Até mesmo por amor, também erramos. E por prazer, ignoramos as consequências. (GCL)
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