O Motorista e o Acostamento

Dirigia, o motorista. Mais do que dirigir, viajar era sua rotina. Diariamente buscava seu destino, às vezes por estreitas rodovias de mão dupla, outras por largas vias de duas pistas com sentido único, agraciado pela existência de acostamentos de ambos os lados. Eventualmente, uma possibilidade de retorno lhe dava a chance de perguntar-se se queria voltar ou seguir adiante. A possibilidade de escolha, e não a falta de opção, reforçava sua convicção. Eram os acostamentos, porém, o que lhe davam segurança, porque por mais cauteloso, convicto e seguro que ele dirigisse, tranquilizava-o saber que teria uma área de escape caso precisasse fugir de um acidente. O motorista não os utilizava para trafegar, nem ao menos os percebia na constância do seu foco na rodovia à sua frente, mas sentia em seu íntimo que os acostamentos, na função marginal de simplesmente estarem ali, eram partes importantes do caminho.

– Gutto Carrer Lima


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