Num futuro não muito distante, quando tivermos toda sorte de chips implantados em nossos corpos e não mais enxergarmos com nossas córneas, e sim através de lentes leitoras de realidade virtual, ninguém mais se preocupará com a própria aparência física. Compraremos "corpos virtuais", que serão a imagem com a qual nossa identidade física será representada para todas as demais pessoas e inclusive para nós mesmos. Veremos e seremos vistos com a aparência que escolhermos ter. Não teremos realizado a ideia idiota de imortalidade ainda, mas a juventude permanente terá sido alcançada. Todos parecerão sempre jovens, bonitos e 'sarados', embora as carcaças corpóreas verdadeiras, invisíveis às lentes tecnológicas, não corresponderão às representações visuais adotadas. Quanto mais bonita a imagem, mais cara ela será. Nossas identidades físicas, assinaturas, impressões digitais e números de documentos não serão mais relevantes, porque ninguém escapará da leitura de DNA feita por dispositivos simples pelos quais seremos cercados por todos os lados na vida cotidiana. Academias, clínicas de estética, salões de beleza e relacionados deixarão de existir. Desde a manicure até o cirurgião plástico, muitas profissões desaparecerão, em consequência da aparência e imagem simulada terem superado o próprio objeto representado. A indústria da moda também fracassará completamente, exceto pelos tecidos destinados a proteger do frio. Andaremos nus por quaisquer lugares, barbudos, despenteados, barrigudos, pelancudos e enrugados, e isso não fará diferença alguma. Uma nova profissão surgirá, derivada da mistura de neurocientista com psicólogo e coacher; todos serão dependentes de repetidas reprogramações mentais para acompanharem as adaptações necessárias às constantes mudanças tentando vestir a nudez da alma. A perfeição e beleza da imagem projetada, no entanto, estarão garantidas pela tecnologia.
Este é um espaço destinado às frases, crônicas, poemas e historinhas que não entraram no livro e a novos textos do autor. Escolha o tema pelo Marcador:
"Você diz que perambula em sua própria terra, mas quando eu penso nisso não vejo como você consegue. Você está sofrendo, você está quebrando, e eu posso ver a dor em seus olhos. Diz que todo mundo está mudando, e eu não sei por quê. – Tão pouco tempo... Tente entender que eu estou tentando fazer um movimento só para continuar no jogo. Eu tento ficar acordado e lembrar meu nome, mas todo mundo está mudando e eu não sinto o mesmo. – Você se foi daqui, logo você irá desaparecer, sumindo em uma luz bonita, porque todo mundo está mudando e eu não acho isso certo. Todo mundo está mudando e eu não sinto o mesmo." Música relevantemente citada em Desapego - O Livro, de Gutto Carrer Lima. Everybody's Changing (Keane) You say you wander your own land But when I think about it I don't see how you can You're aching, you're breaking And I can see the pain in your eyes Says, everybody's changing And I don't know why So little time, try to understan...
Era uma nave tão grande que seria perenemente confundida com um planeta, não chegasse o dia em que ela finalmente pousaria no seu destino último: o mundo no qual todos deixariam de ser passageiros para se tornarem residentes perpétuos. Um desembarque de tamanha proporção não se fez instantaneamente. Demorou o equivalente a noventa anos da nave Terra para todos desembarcarem. Para alguns foi menos, para outros, mais, em função de seus lugares na fila ordenada que estabelecia o tempo de cada um. Enquanto ocorria, os passageiros na grande nave variavam distrações, entre dormir, despertar e entreter-se com ocupações que lhes davam um propósito imanente, ilusoriamente sustentado durante a viagem. Um dia o desembarque seria concluído, e assim se fez. Todos acordaram de súbito num lugar que nada tinha de diferente da nave, exceto a sensação de definitivo que cada um sentiu imediatamente ao despertar. Ao desembarque, foram dadas diferentes denominações, segundo as crenças aprendi...
Comentários
Postar um comentário
Obrigado por comentar! Visite também o site www.desapegolivro.com