Todos somos vítimas. Ou não?

Exaura-me mais aquele que esnoba sua felicidade como se fosse esta uma condição constante, do que aquele que confessa sua dor na esperança de que alguém possa ouvi-lo. Porque o primeiro busca a quem queira aplaudi-lo para afirmar o que não é de toda certeza; de certo há muito de assombrosa vaidade. E o segundo inspira-me a evocar luz de onde nem eu mesmo sei, para com algum esforço de empatia e compaixão, tentar iluminá-lo. Ao fazê-lo, também sou pego pela mesma luz, que energiza a mim tanto quanto ao outro com a coragem de admitir uma condição humana, em vez de covardemente fugir do direito de lamentar. Que cobrança mesquinha é a de exigir minha felicidade visando espelhar a sua própria! Estes sim, são vampiros do espelho! Por trás deles, onde estão os escondidos, tímidos e acuados, amo a sinceridade de quem confia contar a sua tristeza. O triste não quer muito, além de quem o ouça, porque sabe o quão raro isto é, por si. Exaura-me mais o individualismo que dá as costas, do que a mendicância de quem assume-se humildemente em sua angústia diante de todos, mesmo sabendo que geralmente o ouvirá, aquele que também sofre ou já sofreu. A felicidade infantil brinca com a vida fugindo do que dói e querendo mais e mais do que a mime. A sabedoria a vive como gente grande sabendo que todos somos vítimas. Ou não?

– Gutto Carrer Lima

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