Sinos e Tambores

Sinos e Tambores

Posso sentir o instante presente como a batida num tambor: Bum! E acabou. Virou passado. Ou o sentirei como o som de um sino tibetano: Doooooooooooooooooooooooommmmmmmmmmm... Um instante que se prolonga e nada penso enquanto o escuto esvanecendo-se. Se o instante for ruim, desejarei que seja tambor. Se for bom, saberei que ele não é, não foi, nem será; ele simplesmente está sendo sino; um instante que não desejo que acabe.

Esta é uma analogia com o Eterno Retorno de Nietzsche, como o entendo. Um instante que concentra em si, passado, presente e futuro, ou seja: a eternidade. – Não seria essa a eternidade prometida? Não a eternidade que está no futuro e nos faz ansiá-la, nem a que está no passado onde antes do princípio algo existiu para lhe dar origem.

A eternidade do sino se mantém no instante vivo enquanto é vivido, razão pela qual acredito ser o desapego do futuro ainda mais importante do que do passado. Porque o passado ainda se faz presente e, ato contínuo, sem ele não vivo plenamente o instante. Posso dele excluir o futuro, mas não o passado que o originou. Assim, o apego ao instante é o que mais me aproxima da felicidade, ou se torna a própria, sem nada esperar ou desejar além dele mesmo.

Quanto ao futuro, ele é expectativa e esperança de fim ou começo, e por assim ser, um eterno avanço para proporcionar conforto quando não é possível ouvir os sinos em meio aos muitos e sucessivos tambores que afastam a eternidade.

– Gutto Carrer Lima








 

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