Único Sobrevivente
Foi culpa daquela música. Não se contentou em ser lembrança. Quis mais. Quis companhia de todos os dias em que foi ouvida. Sucessivos flashbacks de imagens, pessoas, lugares. – Pare! Eu não quero rever! – Pensando bem, continue! Só mais um quadro, uma cena. Replay na canção e nos anos que se misturam em câmera nervosa. Já não controlo os movimentos. Momentos idos que vem e vão, e sobrepõem-se uns aos outros em completa desordem girando como ponteiros em contrárias direções. Meu coração, ele vê tudo e pergunta: – Você se lembra? – Eu digo: – Sim. As memórias que só em mim permanecem, conhecem mais e mais a solidão, porquanto só eu me lembro e eles não. Sou vivo em meus tempos. Livre descontente, levando comigo o remorso e a saudade de ser em nossas recordações, o único sobrevivente.
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